Quando se comenta sobre a arte de se falar em público logo vem à mente uma situação em que alguém está diante de centenas de pessoas, em cima de um palco ou púlpito seja ele escolar ou religioso. Esse alguém suando frio, mãos geladas e um aperto no estômago. Mas o que muitos não imaginam, mas milhares vivenciam que a dificuldade de falar em público não se restringe somente à situação descrita anterior.
Alguém que está perdido na rua e precisa de informação para saber aonde chegar passa por isso, assim como, crianças, adolescentes, jovens e adultos passam por esse constrangimento de comunicação em um primeiro dia de aula na escola, na faculdade, no clube e em uma festa onde só conhece o aniversariante ou quem lhe convidou.
Ler diversos livros de como falar bem, como se portar, matricular-se em cursos que prometem curar o "medo de falar em público" em único final de semana são instrumentos se bem usados e reconhecidos seus limites de "cura" são excelentes para as milhares de pessoas que vivenciam tal dificuldade.
Porém, é importante notar que indivíduos que possuem crenças de incapacidade e de inadequação são aqueles que mais sofrem e necessitam de ajuda terapêutica, pois, não basta aprender técnicas comportamentais, é preciso compreender os pensamentos e as crenças que os levam a agir da maneira errada.
Primeiro é necessário identificar quais são as crenças de incapacidade e inadequação para assim exemplificar a postura e o comportamento adotado.
Bem, primeiro é preciso entender que todos possuem pensamentos de incapacidade ("preciso executar essa tarefa, mas, não faço a mínima idéia") e de inadequação ("só tem eu de vestido vermelho nesta festa, acho que exagerei na produção"), mas tem pessoas que acabam adotando estes pensamentos em maior quantidade que acabam criando uma crença disfuncional ( crença que não favorece comportamentos corretos e qualidade de vida mental agradável).
No caso das pessoas com dificuldade de falar em público, geralmente, possuem crenças de incapacidade ("não sei porquê aceitei pegar essa aula, os alunos vão reclamar depois, sempre é assim", "não adianta não sei dar uma boa palestra", "sou um fracasso mesmo não consigo nem abordar uma pessoa para tirar uma dúvida") sendo indivíduos que reclamam de serem fracassados, incapazes de fazer algo porque sempre que o fazem, acontece algo ruim. Para estes se saírem bem ao falar em público é necessário trabalhar o exagero de seus pensamentos, por meio de um diálogo socrático (questionador), tal como inquerir se sempre o resultado final é negativo mesmo, se é verdade que ele não dá uma boa palestra ou não sabe se expressar bem (pessoas com traços de perfeccionismo geralmente são guiados por crenças de incapacidade, quanto mais exigem de si para sair perfeito, significa que está encobrindo alguma incapacidade que precisa ser escondida e mantida em segredo a todo custo).
A partir do momento que o indivíduo perceber que a sua verdade interna não é a verdade vivida, ele pode adotar estratégias compensatórias para evitar que os pensamentos da crença disfuncional apareçam, tal como:
- dominar o assunto: se for dar uma palestra/aula pesquisar sobre o assunto, conversar com amigos, companheiro(a) e fazer um roteiro do que acredita ser o mais importante e se preparar para dizer algo similar à "desculpe-me não sei te responder isso agora, posso pesquisar e te responder por e-mail ou na hora do intervalo, pode ser?", não é porque está dando uma palestra/aula que precisa entender de tudo e responder à todas as perguntas. Talvez até saiba responder, mas, o nervosismo pode "ligar" os pensamentos de incapacidade e jogar tudo para água abaixo, então, preparar um roteiro e ter na manga uma frase de que responderá depois é um excelente recurso
- conhecer o terreno: procurar sempre saber quem é o público que irá ouvir e o contexto deste público (congresso, aula, feira, igreja, apresentação em rádio ou televisão), se sabe de antemão que não conhece ninguém em uma festa da qual foi convidado, procure saber um pouco mais do grupo do seu amigo, por exemplo, é uma festa de aniversário de um amigo de trabalho pesquise um pouco sobre aquele hobby que comentou ou à cidade que ele pensa em ir, para ter assuntos similares e lembrar-se que falar de alguma viagem ou contar um sufoco que já passou costuma render bons papos e uma boa atenção dos ouvintes
Já para aquelas pessoas que são guiadas por pensamentos de inadequação, criam para si uma atmosfera de que tudo o que fazem é errado, é preciso um treino comportamental para ajudá-la a flexibilizar o modo pelo qual interpreta as situações à sua volta e ensiná-la a ter como estratégias compensatórias a acreditarem em si mesmo (talvez seja necessário trabalhar o autoconceito e a autoestima) não imitando ninguém mas agirem de forma natural, procurar ser breve e discreta e treinar, treinar e treinar, pois, somente a prática e o tempo é que vai dar mais segurança para esta.
Seja qual for o público ou situação, é necessário driblar as crenças disfuncionais de incapacidade e de inadequação, mas, para isso é necessário ser persistente, pois, não se adota um comportamento do dia para a noite, assim como, não se muda os pensamentos de anos em um piscar de olhos.