Coração, pulmões, rins, pâncreas, fígado, intestino delgado, córneas, pele, ossos e cartilagens.
Somando todos esses órgãos, um único doador pode ajudar até 14 pessoas.
Hoje no Brasil, a fila de espera por um órgão ou tecido tem mais de 60 mil pessoas, que podem aguardar até seis anos para chegar sua vez.
A situação é delicada para os dois lados. Tanto para quem espera receber um órgão quanto para quem perdeu um familiar e é abordado pela equipe de captação de órgãos.
Para Eloiza Quintela, gastrohepatologista e cirurgiã especialista em transplantes de fígado no Hospital Dante Pazanesse em São Paulo é importante conversar sobre a opção de ser ou não doador para que os familiares estejam cientes.
"Em um momento de dor, se a família tiver conhecimento e for abordada pela equipe de captação é mais fácil para aceitar a doação"",defende.
Ao conscientizar a população sobre como funciona a fila de espera e a transparência dos processos "da captação ao transplante" será mais fácil obter órgãos e, dessa forma, diminuir não só o número de pessoas na fila, mas também o tempo de espera para se ter mais qualidade de vida.
Melhores do mundo O Brasil está na lista dos países mais conceituados quando o assunto é transplante. É o segundo maior em número de cirurgias, depois dos Estados Unidos.
E é o primeiro na lista de programas de transplante de órgãos subsidiados pelo governo. Atualmente 95% das cirurgias realizadas no país são financiadas pelo governo, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
As técnicas utilizadas são de alta complexidade e estão entre as melhores do mundo. As equipes responsáveis pela captação de órgãos e realização dos transplantes são bem treinadas e qualificadas para fazer um trabalho de alto padrão.
"O diferencial é o número de transplantes realizados e as condições de atendimento para os pacientes em estado grave que necessitam de um novo fígado para sobreviver", explica a Dra.Eloiza Quintela.
Potenciais doadores
Qualquer pessoa pode ser doador de órgãos e tecidos, independentemente da idade.
Há restrição apenas para quem teve alguns tipos câncer, pois a doença pode se desenvolver no receptor.
"Todos somos potenciais doadores. Quem sofreu um infarto não pode doar o coração, mas os outros órgãos sim. O importante é ter a vontade de colaborar e manifestá-la em vida", defende a cirurgiã.
Os principais candidatos a se tornarem doadores são as vítimas de morte encefálica "ou cerebral", que ocorre quando o cérebro pára de funcionar.
O diagnóstico é feito por dois médicos, sendo um neurologista e comprovado por exames de imagem. "Há uma legislação muito rigorosa para comprovar a morte. As pessoas não precisam ter medo de que alguém vá tirar os órgãos antes de ser constatada a morte cerebral", afirma.
Fila de espera Apesar de estar entre os melhores do mundo, o Brasil tem uma fila de espera grande e demorada. O problema começa antes da captação dos órgãos e da realização do transplante.
"A manutenção de uma pessoa que teve morte encefálica é complicada. É preciso manter o coração batendo à custa de medicamentos para que seja possível utilizar os órgãos em transplantes e muitos hospitais não têm estrutura para isso", pontua a cirurgiã.
Segundo a Dra. Eloiza Quintela, a quantidade de doadores de órgãos é muito pequena se for considerado o número de pessoas que têm morte encefálica no país. "Nós temos uma subnotificação e subutilização de potenciais doadores", conclui.
Cada hospital, com mais de 80 leitos, deve manter uma comissão intra-hospitalar de doação de órgãos e tecidos para transplantes. As Secretarias de Estado da Saúde têm uma central de notificação e captação de órgãos.
"Nem sempre essas comissões funcionam efetivamente 24 horas por dia, nem têm estrutura e pessoas treinadas para atuar nessa área", afirma.
Outro problema que contribui para a fila de espera é a má distribuição das equipes de captação e transplante de órgãos. A maior parte está concentrada nas regiões Sul e Sudeste.
"Os hospitais que têm mais estrutura para a captação e realização dos exames estão aqui porque acompanham o desenvolvimento econômico", explica.
Para diminuir a fila de espera é preciso melhorar os recursos dos atendimentos de urgência dos potenciais doadores e também a atuação das comissões intra-hospitalares.
"Elas precisam ser atuantes e ter uma pessoa para cuidar só disso. Não adianta existir apenas no papel", pontua Dra. Eloiza Quintela.
O Sistema Nacional de Transplantes é controlado pelo Ministério da Saúde controla, por sua vez, os programas estaduais de transplantes através das Secretarias de Estado da Saúde.
"O sistema é totalmente controlado e justo do ponto de vista social em que ninguém passa na frente por questões políticas, econômicas ou raciais. A fila é absolutamente respeitada", salienta a cirurgiã.