Esse mês lendo um caderninho de anotações, de meus pais, de frases interessantes compilados por eles, gostei de uma frase de Jock Falkson (também presente em diversas páginas virtuais) que despertou minha atenção para um importante aspecto de nossas vidas: "aos 20 anos, preocupamo-nos com o que os outros pensam de nós, aos 40, não ligamos para o que os outros pensam de nós; aos 60, descobrimos que eles nunca pensaram em nós."
Ao deixamos de lado, talvez as decepções e amarguras que esta fala possa vir a ter diante da leitura solta, é interessante notar que tal opinião tem seus genéricos distribuídos pelo senso comum, tais como "se eu pudesse voltar faria as coisas com mais calma", "se eu tivesse a experiência que tenho hoje não teria agido assim", "se eu pensasse mais em mim e na minha família tudo seria diferente" e "se eu soubesse que não conseguiria fazer carreira na empresa teria feito uma faculdade para trabalhar por conta própria".
Alguns podem pensar que tais falas genéricas ditas por alguns revelam a falta de organização e planejamento na vida profissional, talvez por conta dos atributos discutidos anteriormente, no artigo do mês passado (bom profissional versus profissional de destaque), porém, o que está por detrás desta possível falta é a ausência do planejamento da UNI.
Tem aumentado o número, tanto de homens quanto de mulheres, que por conta da atribulada vida profissional tem nos procurado seja no consultório psicológico ou médico, preocupados com a qualidade de vida e, é nesse momento, que se observa a ausência da UNI.
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Levando-se em consideração que a qualidade de vida é uma terminologia que transcende o conceito de saúde, sendo a percepção do indivíduo diante do contexto sócio-cultural e dos sistemas de valores nos quais está inserido e, em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações na vida pessoal, afetiva, profissional, familiar, acadêmica e outras, pontua-se a falta de equilíbrio e do planejamento de tais objetivos e expectativas de acordo com uma escala de importância.
Todos os sonhos, planos e objetivos traçados por uma pessoa, são metas a serem alcançadas seja elas de curto, médio e longo prazo e, a maioria mesmo tendo noção desta cronologia às vezes se deixa ser "atropelados" ou "invadidos" pelas opiniões de pessoas próximas ou distantes (gerente, chefe, headhunter, programas de televisão) simplesmente por não terem planejado a sua própria UNI.
Mas afinal, o que é a UNI?
É abreviação da escala de importância que nossos sonhos, planos e objetivos deveriam ser classificados: urgentes, necessários e importantes. Para ser mais claro, eis um exemplo na vida profissional: visualize um rapaz formado em engenharia, que não esteja trabalhando em sua área de atuação, é casado, mas, enfrenta problemas em seu relacionamento por problemas financeiros e seu rendimento na empresa está baixo, além de estar com alguns problemas de saúde.
Pensando que este rapaz era um profissional de destaque, sempre fazendo cursos, se atualizando e que agora se encontra nesta situação, qual foi o possível erro cometido por este? Onde está a UNI da vida dele? Teríamos que investigar a vida deste rapaz para termos certeza, mas podemos hipotetizar que ao se casar, ele tinha uma meta urgente que era ter recursos financeiros para manter o casamento, sendo o dinheiro o meio necessário para a manutenção do seu relacionamento amoroso visto como importante.
Complemente a sua leitura:
Possivelmente para manter essa tríade, o rapaz procurou por diversos empregos e, não tendo encontrado em sua área de atuação, mas com essa UNI como um objetivo aceitou o emprego naquela empresa e desenvolveu os atributos necessários para ser um profissional de destaque.
E é nesse momento que muito de nós "tropeçamos", pois, trabalhamos em cima de uma meta urgente como se ela fosse o objetivo para manter aquilo que se considera necessário e importante.
No caso deste rapaz, ele deveria ter investido naquilo que ele considerava como necessário (recursos financeiros), em paralelo, ao trabalho, participar de workshop, cursos de atualização e procurar aos poucos cargos na própria ou em outra empresa do qual ele almejasse.
Mas, ele acabou focando todos os seus recursos (pessoais e profissionais) para a manutenção da meta urgente, alcançando bons objetivos profissionais, mas não se sentindo realizado após algum tempo.
E isso acontece frequentemente nas empresas (basta observamos o número de empresas e de profissionais que se habilitam a realizar palestras motivacionais). Mas quando se investe em uma meta urgente, a motivação dura só durante a busca, a partir do momento em que se mantém a conquista, começa a aparecer à insatisfação no trabalho, o desânimo e o mal-estar que se reflete nas outras áreas da vida.
Por isso é interessante ter os planos e objetivos sempre ao nosso alcance e planejarmos a sua conquista, sempre os classificando como necessários e importantes, para que os meios urgentes realizados para a conquista deles não se tornem o foco de empecilhos no alcance de nossos sonhos.
Cíntia G. Vilani - CRP 06.87473
Psicóloga e Psicoterapeuta Cognitiva
Especialista em Deficiência Mental
Mestranda em Psicologia Clínica pela PUC/SP