Não escovar os dentes antes dormir pode aumentar o risco de AVC
A higiene bucal é uma prática essencial para manter a saúde dos dentes, da gengiva e da boca em geral. Mas você sabia que ela também pode influenciar a saúde do seu coração e do seu cérebro? Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Osaka, no Japão, revelou que não escovar os dentes antes de dormir pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC).
O que é a doença periodontal?
A doença periodontal é uma inflamação crônica da gengiva causada pelo acúmulo de placa bacteriana nos dentes. A placa bacteriana é uma película pegajosa e incolor que se forma na superfície dos dentes e que contém milhões de bactérias. Se não for removida diariamente pela escovação e pelo uso do fio dental, a placa bacteriana pode endurecer e se transformar em tártaro, uma substância amarelada e calcificada que só pode ser removida por um dentista.
A doença periodontal pode se manifestar em diferentes graus de gravidade, desde a gengivite, que é a forma mais leve e caracterizada por sangramento, vermelhidão e inchaço da gengiva, até a periodontite, que é a forma mais avançada e que pode levar à perda dos dentes e dos ossos que os sustentam.
Como a doença periodontal pode afetar o coração e o cérebro?
A doença periodontal não afeta apenas a saúde bucal, mas também pode ter consequências sistêmicas, ou seja, afetar outras partes do organismo. Isso acontece porque as bactérias presentes na placa bacteriana podem entrar na corrente sanguínea através das feridas na gengiva e se espalhar pelo corpo, causando inflamação e danos aos tecidos.
Uma das áreas mais afetadas pelas bactérias da boca é o sistema cardiovascular, que é composto pelo coração e pelos vasos sanguíneos. As bactérias podem se alojar nas paredes das artérias e contribuir para o seu enrijecimento e estreitamento, um processo chamado de aterosclerose. A aterosclerose dificulta a passagem do sangue e aumenta o risco de formação de coágulos, que podem obstruir as artérias e causar um infarto (quando ocorre no coração) ou um AVC (quando ocorre no cérebro).
O infarto e o AVC são as principais causas de morte no Brasil e no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O infarto ocorre quando uma parte do músculo cardíaco morre por falta de oxigênio, provocando dor no peito, falta de ar, suor frio e palpitações. O AVC ocorre quando uma parte do cérebro fica sem oxigênio, provocando alterações na fala, na visão, na força muscular e na sensibilidade.
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Qual foi o estudo realizado?
O estudo que mostrou a relação entre a escovação dos dentes e as doenças cardiovasculares foi um estudo observacional retrospectivo, publicado na revista científica Scientific Reports em 2023. Os pesquisadores analisaram dados de 1675 pacientes hospitalizados no Hospital Universitário de Osaka entre 2016 e 2019. Os pacientes tinham 20 anos de idade ou mais e foram submetidos a um questionário para avaliar os seus hábitos de escovação dental.
Os pacientes foram divididos em quatro grupos, de acordo com a frequência de escovação: MN (escovava os dentes duas vezes ao dia, pela manhã e pela noite), Noite (escovava os dentes apenas à noite), M (escovava os dentes apenas pela manhã) e Nenhum (não escovava os dentes). Os pesquisadores também coletaram amostras de sangue dos pacientes para medir os níveis de proteína C reativa (PCR), um marcador de inflamação sistêmica.
Os pesquisadores ajustaram os resultados para fatores que poderiam influenciar na escovação e nas doenças cardiovasculares, como idade, sexo, tabagismo, índice de massa corporal (IMC), pressão arterial, colesterol, diabetes e uso de medicamentos. Eles então compararam os grupos entre si e verificaram se havia alguma diferença nos níveis de PCR e no risco de eventos cardiovasculares, como infarto ou AVC.
Quais foram os resultados do estudo?
O estudo encontrou uma associação inversa entre a frequência de escovação e os níveis de PCR, ou seja, quanto mais vezes os pacientes escovavam os dentes, menores eram os níveis de PCR. Isso indica que a escovação pode reduzir a inflamação sistêmica causada pelas bactérias da boca.
O estudo também encontrou uma associação inversa entre a frequência de escovação e o risco de eventos cardiovasculares, ou seja, quanto mais vezes os pacientes escovavam os dentes, menor era o risco de infarto ou AVC. Os grupos MN e Noite apresentaram os menores riscos, enquanto o grupo Nenhum apresentou os maiores riscos. O grupo M apresentou um risco intermediário.
Esses resultados sugerem que a escovação dos dentes antes de dormir pode ter um efeito protetor contra as doenças cardiovasculares, possivelmente por reduzir a carga bacteriana na boca durante a noite.
Quais foram as limitações do estudo?
O estudo teve algumas limitações que devem ser consideradas na interpretação dos resultados. Uma delas foi o tamanho da amostra, que foi relativamente pequeno e composto apenas por pacientes hospitalizados em um único centro. Isso pode limitar a generalização dos resultados para outras populações e contextos.
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Outra limitação foi o viés de seleção, que pode ter ocorrido pela forma como os pacientes foram recrutados para o estudo. Os pacientes que aceitaram participar do questionário podem ter sido mais conscientes sobre a sua saúde bucal do que aqueles que recusaram. Além disso, os pacientes que não escovavam os dentes podem ter tido vergonha de admitir esse hábito e mentido nas respostas.
Uma terceira limitação foi a falta de dados sobre outros fatores de risco cardiovascular que podem ter influenciado nos resultados, como o consumo de álcool, o estresse, a atividade física e a alimentação. Esses fatores podem estar associados tanto à escovação dos dentes quanto às doenças cardiovasculares e confundir a relação entre eles.
Uma quarta limitação foi a impossibilidade de estabelecer uma relação causal entre a escovação dos dentes e as doenças cardiovasculares. O estudo foi observacional e não experimental, ou seja, ele não manipulou a variável independente (a escovação dos dentes) e não controlou todas as outras variáveis que poderiam interferir na variável dependente (as doenças cardiovasculares). Portanto, ele não pode afirmar que a escovação dos dentes causa ou previne as doenças cardiovasculares, mas apenas que existe uma associação entre elas.
Conclusão
A saúde bucal é um aspecto fundamental para a saúde geral do organismo. Não escovar os dentes antes de dormir pode aumentar o risco de doença periodontal, que por sua vez pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como o infarto e o AVC. Por isso, é essencial manter uma rotina de higiene bucal adequada, que inclui escovar os dentes pelo menos duas vezes ao dia, sendo uma delas antes de dormir, usar o fio dental, escovar a língua e visitar o dentista regularmente. Assim, você protege não só a sua boca, mas também o seu coração e o seu cérebro.
Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Osaka mostrou a relação entre a escovação dos dentes e as doenças cardiovasculares.
O estudo analisou 1675 pacientes hospitalizados e verificou que aqueles que não escovavam os dentes à noite tinham maior risco de infarto ou AVC do que aqueles que escovavam duas vezes ao do que aqueles que escovavam duas vezes ao dia.
O estudo também encontrou que a escovação dos dentes antes de dormir pode reduzir a inflamação sistêmica causada pelas bactérias da boca.
No entanto, o estudo teve algumas limitações, como o tamanho da amostra, o viés de seleção, a falta de dados sobre outros fatores de risco cardiovascular e a impossibilidade de estabelecer uma relação causal entre a escovação e as doenças cardiovasculares.
Portanto, são necessários mais estudos para confirmar esses achados e entender melhor os mecanismos envolvidos nessa associação.