A contemporaneidade usurpa, além dos valores pertinentes ao momento histórico, todos os valores existentes na modernidade. Entretanto, esses não possuem o prestígio necessário para se tornarem referencial. A sociedade de consumo exarcebado e fluida é o espaço onde o simbólico se torna instável, pois, os últimos referenciais nunca param de mudar.
Este adágio é percebido ao pensar sobre as imagens do corpo. Desde os primórdios da construção das civilizações, a estética corporal influía na base de organização social. A perfeição e a simetria eram atributos valorizados especialmente pelos gregos e romanos. A simetria corporal sofreu desvalorização no século XVIII, com o Iluminismo dissociando corpo-alma, voltando a imperar com o advento do capitalismo ao padronizar os conceitos de beleza, relacionados ao corpo magro ou musculoso fundamentado na necessidade de consumo criado pelas novas tecnologias.
No século XXI, a imagem corporal passou a ser uma característica importante para se obter sucesso financeiro e amoroso como tem sido veiculado nas diversas mídias. Em filmes, novelas, comerciais dentre outros é possível diferenciar os elementos de um grupo A e do B; de acordo com o seu corpo físico, conforme o padrão impetrado pelas mídias publicitárias que trabalham para criar um imaginário social entre beleza-sucesso garantido.
Os jovens-adultos têm-se preocupado tanto com o seu corpo, com a sua carreira profissional e seus amores de estações e têm esquecido dos futuros "adultos": os jovens de verdade do hoje.
Vive-se um período na qual as alternativas de padrões de comportamentos de identificação ilimitados, decorrentes da decadência dos valores tradicionais ocasionados pela difusão dos meios de comunicação, acrescido aos critérios estabelecidos na modernidade para a conquista do status "jovens-adulto" prolongam a juventude.
Esse estado forçado de moratória para a ascensão à vida pode estar atrelada ao fato da adolescência ter sido eleita como o ideal da cultura contemporânea. Graças a esse meio de veiculação de valores, cada vez mais importante na economia do psiquè do indivíduo, o modelo "adolescente de ser" captura todas faixas etárias, deixando o jovem na solidão de si mesmo.
Os jogos identificatórios fundamentais na construção da subjetividade humana se tramam numa condição narcísica, pois, os "jovens-adultos", desejosos da suposta vida de prazeres despreocupados dos adolescentes, não sustentam a lei que é estruturante ao sujeito, principalmente ao jovem-adolescente, fornecendo a este somente um espelho deformado de si mesmo.
Então, esses adultos fragilizados por não mais respeitarem suas vivências como fontes de experiência, sofrem pela desvalorização regressiva a qual se submetem e fazem sofrer também ao adolescente que não os vêem como modelo.
Em linhas gerais, pode-se afirmar que algumas décadas atrás o homem, como gênero, buscava ter a atitude, empreendedorismo e ousadia como daquele empresário da companhia ilustre, enquanto a mulher procurava ter atitude, ser flexível, ter sabedoria para administrar sua casa e seu emprego, como herança dos movimentos feministas do século XX.
A ausência de um modelo de autoridade imitador/estruturante impede o sujeito jovem de procurar prazer ilimitado/nirvânico, com satisfações fugazes e/ou comandadas pela destrutividade psicosssocial (violência social internalizada). Os valores da cultural atual estruturam um superego sadio que cobra a todo o momento a satisfação do prazer ilimitado e no lugar de um ideal de ego capaz de impulsionar para o indivíduo ao futuro vemos a manutenção do ego ideal.
Esses adolescentes ficam impossibilitados de desenvolverem recursos subjetivos próprios de alcançarem o lugar de sujeito desejante, imersos em egos imaturos sofrendo de altas doses de depressão e ansiedade. Sujeitos incapazes de vivenciar a autonomia, por não conseguir conviver com a alteridade de um outro.
A sociedade que deveria servir de espelho aos nossos jovens é descrita singularmente pelo famoso crítico das mídias, George Will, ex-presidente da Federal Comunnications Comission, como "(...) uma geração cercada por entretenimentos gráficos, e em uma sociedade cada vez mais infantilizada, cuja filosofia moral pode ser reduzida a uma celebração de "escolha", os adultos estão cada vez menos distinguíveis das crianças em termos de suas dedicações (...) Isto é progresso: uma distribuição mais sofisticada de estupidez".